"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

TRUMP AFASTA OS EUA DA ALEMANHA E A INGLATERRA NÃO EM MAIS IMPORTÂNCIA

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Charge do Tacho (Charge Online)
Uma história futura do G-20 em Hamburgo pode começar com a pergunta que o presidente Donald Trump – na verdade, o assessor que redige seus discursos – propôs dias antes, em Varsóvia: “A questão fundamental de nosso tempo é se o Ocidente tem vontade de sobreviver.” A ideia, que inicialmente não passou de tirada de Stephen Miller de choque de civilizações juvenil/reducionista – do mesmo redator autor da épica “carnificina norte-americana” do discurso de posse de Trump e de proibir que muçulmanos viajassem – pode, na verdade, ter encontrado algumas respostas em Hamburgo.
O G-20 no todo foi uma distopia militar tóxica travestida de reunião global. “Bem-vindo ao Inferno” e outros muitos protestos, em múltiplos níveis, foram uma espécie de resposta a outra das perguntas de Trump-in-Varsóvia: “Temos vontade e coragem de preservar nossa civilização, frente aos que a subverteriam e destruiriam?”
AMEAÇA À CIVILIZAÇÃO – Enquanto os líderes trabalhavam em salas confortáveis, trocavam fofocas e maledicências, ouviam a Ode à Alegria e refestelavam-se no proverbial banquete, do lado de fora só se viam incêndios e saques; uma espécie de comentário feroz, ao estilo das ruas, não apenas sobre o que aqueles líderes pensem da “civilização”, mas também sobre o que Trump-in-Varsóvia convenientemente esqueceu de dizer: que são as “políticas” de EUA e OTAN que acabam por gerar o revide do terror que ameaça a “civilização”, os “nossos valores” e nossa “vontade de sobreviver”.
E ainda vai piorar. No próximo ano, produção conjunta Bundeswehr/OTAN, uma cidade fantasma construída num campo de treinamento militar em Sachsen-Anhalt – não distante de Hamburgo – tornar-se-á local-cenário para treinamento militar para guerra urbana. A ‘austeridade’ está longe de acabar, e os euroagricultores terão de continuar a rebelar-se em massa.
NOVA ORDEM – É doce a tentação de identificar a emergente nova ordem como uma espécie de mundo Putin-Xi-Trump-Merkel. Ainda não – e ainda não é sequer multilateral. O que estamos vendo são armadilhas do multilateralismo, mas não ainda a coisa verdadeira — e a oposição de Washington, em incontáveis níveis.
Frau Merkel queria que a cúpula “dela” se concentrasse em três questões cruciais: mudança climática, livre comércio e gestão da migração global massiva – nenhum dos quais interessava muito a Trump, praticante de abordagem darwiniana na política global. Por tudo isso, o mundo só conseguiu a mais tediosa confusão – contradições internas e tudo.
O Patrão, mais uma vez, foi o presidente Xi Jinping da China, conclamando os membros do G-20 a privilegiar uma economia global aberta; a fortalecer a coordenação da política econômica; e a não descuidar dos enormes riscos inerentes ao turbo-capitalismo financeiro. Disse clara e corretamente que o mundo precisa de um “regime de comércio multilateral”.
DIPLOMACIA DO PANDA –  Como apoio, a China serviu-se de diplomacia de panda gigante cuidadosamente aplicada: ofereceu dois desses animais, Meng Meng e Jiao Qing, ao zoológico de Berlim como gesto de amizade. O comentário de Merkel foi bem menos fofo: “Para Pequim, a Europa é uma península da Ásia. Nossa visão é diferente”.
Bem, para todos os efeitos práticos o que os interesses do business chinês e alemão realmente veem adiante nessa estrada é a integração da Eurásia – com as Novas Rotas da Seda do século 21, também chamadas Iniciativa Cinturão e Estrada, começando na China oriental e terminando no vale do Ruhr. Essa, sim, é definição prática de como deve funcionar um “regime de comércio multilateral”. Acrescente-se a isso o grande acordo comercial que acaba de ser firmado entre União Europeia e Japão. Para todos os efeitos práticos, geopoliticamente e geoeconomicamente, a Alemanha está andando em direção ao leste, para o Oriente.
MAIS TRANSPARÊNCIA – Os países BRICs – China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul – reuniram-se em reuniões laterais e – como se poderia esperar – querem “sistema comercial multilateral, com regras, transparente, não discriminatório e inclusivo.”
O presidente Putin deu um passo a mais – disse que sanções financeiras mascaradas sob pretextos políticos ferem a confiança mútua e prejudicam a economia global. Todos sabem, todos concordam, mas as sanções, que são elemento da política geoeconômica de “do nosso jeito ou caia fora” dos EUA, tão cedo não desaparecerão.
E há também o grupo Attac antiglobalização, que critica Merkel por encenar “uma produção cínica”: enquanto a chanceler se posiciona como “líder do mundo livre”, o governo alemão está, na verdade, “implantando uma estratégia agressiva de superávits de exportações na balança comercial”. Com isso, temos o Attac, de esquerda/progressista, perfeitamente alinhado com Donald Trump.
AFASTAMENTO – Geopoliticamente, Washington está de fato separando-se da Alemanha, ao mesmo tempo em que Inglaterra já não tem poder algum.
O governo Trump considera inimigos Alemanha e Japão, dedicados a destruir a indústria dos EUA pela manipulação fraudulenta da moeda. No meio prazo, é razoável esperar que a Alemanha aos poucos se reaproxime da Rússia. O momento unipolar de Washington vai-se esvaindo bem depressa. E a “Guerra dos Tronos” está só começando, no reino do G-20. (artigo enviado por Sergio Caldieri)

14 de julho de 2017
SputnikNews

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