"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

LULA VOLTA AO CENTRO DA HISTÓRIA COMO VILÃO E V´TIMA, TUDO AO MESMO TEMPO


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Charge do Jota A (Portal O Dia/PI)
Lula condenado por Moro é capítulo esperado, mas distante do epílogo da sucessão presidencial. A novela não se encerrará nem com o julgamento de apelação do petista a tribunais superiores. Se é impossível prever o desfecho jurídico, há consequências políticas imediatas: 1) reforça a rejeição a Lula; 2) energiza a militância petista com o discurso de vitimização; 3) destampa o debate sobre uma candidatura alternativa, à esquerda.
A duração desses efeitos é, todavia, desconhecida. A sentença de Moro termina em interrogações. Para seus principais rivais nas pesquisas – Marina, Doria e Bolsonaro –, a condenação de Lula é boa ou má notícia? E para Temer e Rodrigo Maia?
REJEIÇÃO – Segundo Ibope e Datafolha, a rejeição a Lula caía à medida que a crise do governo Temer se aprofundava. Não só por sua saída do foco narrativo em todas as mídias, mas pela comparação com os tempos de exuberância econômica na gestão do ex-presidente. Lula volta ao centro da história como vilão e vítima, tudo ao mesmo tempo, agora. A consequência imediata é um aumento considerável da polarização política. A reunificação do País contra Temer se dilui, ao menos por ora. Bom para Temer, ruim para Maia.
Enquanto o cenário ultrapolarizado durar, a tendência é o teto eleitoral de Lula baixar, ao mesmo tempo que o piso, por mais contraditório que pareça, tende a se reforçar – por causa do discurso de perseguição ao petista. Numa eleição em dois turnos, o piso é prioritário, pois viabiliza a ida ao segundo turno. O teto não é absoluto. Pode até ser baixo, desde que seja maior que o do adversário no turno final. Votar é comparar.
Isso se Lula puder ser candidato. A condenação reforça a outra possibilidade, a de ele ficar fora da eleição. E isso faz ainda mais urgente e necessária – para o PT e para seus aliados – a discussão sobre o “substituto”.
SEM PLANO B – A polarização expõe nervos e aumenta o risco de quem puxar esse debate. Neste momento, aquele que se deixar ver como alternativa a Lula será massacrado nas mídias sociais e tachado de oportunista pelo PT.
Quem sonha com o eventual apoio de Lula caso ele seja impedido tem de correr para demonstrar solidariedade. Aquele que demorar perderá pontos com o maior cabo eleitoral de 2018. Mas a discussão sobre o “regra três” vai ocorrer, inevitavelmente, nos bastidores. Hoje, pelas pesquisas, Joaquim Barbosa e Ciro Gomes são, pela ordem, potenciais proxies de Lula. Haddad fica muito atrás. No fim, muito dependerá da palavra do ex-presidente. De novo.
ANTI-LULA – E, no campo oposto, qual o efeito de Lula condenado por corrupção? Doria montou sua campanha presidencial como o anti-Lula. Correu a saudar a condenação de quem chamou de “o maior cara de pau do Brasil”, mas pode acabar vitimado pela mudança de cenário. Depende de como a história vier a se desenrolar. Se Lula acabar sendo candidato, melhor para Doria, que vai explorar ao máximo a condenação, mesmo que ela venha a se tornar sem efeito. Mas o que acontece com o anti-Lula se não houver Lula?
Sem o líder das pesquisas, há vácuo no espectro eleitoral. Marina ganharia parte desse espaço, mas pouco. “O principal efeito da ausência do atual favorito é a abertura de terreno ainda mais amplo para candidaturas surpresa”, diz Marcia Cavallari, do Ibope. Aquilo que Mauro Paulino, do Datafolha, chama de candidato-rojão: “Alguém muito conhecido, com imagem formada, credibilidade e soluções claras para os problemas de quem decide eleições, os mais pobres”.
Se o rojão aparecer, quem vai segurá-lo? Não será Bolsonaro. E Doria, poderá explodir nesse papel? Hoje, falta-lhe pólvora. Última instância de apelação, a urna é como cabeça de juiz.

17 de julho de 2017
José Roberto de Toledo
Estadão

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