"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 18 de junho de 2017

NEM DIREITA, NEM ESQUERDA

Hoje a Europa transformou-se em verdadeiro laboratório de mudanças políticas, econômicas e sociais.

Ninguém tem segurança, em relação ao que acontecerá no futuro.

Após o “Brexit” – primeiro sinal de fissura na unidade europeia –, o continente luta para evitar que todo o poder mundial fique nas mãos de Vladimir Putin, Xi Jinping e Donald Trump.

Enquanto isso, o Brasil com a sua posição global, é a grande incógnita da América Latina, atravessando sua mais grave crise, sem perspectivas de soluções estáveis.

Sobretudo, pela inquietação originária na falta de líderes, que possam conduzir o país às mudanças não extremadas, equidistantes das pregações de direita e de esquerda.

No caso europeu existem dois países que dão sinais de “novos rumos”, no meio da catástrofe.

São eles: França e Portugal.

Macron recebeu voto de confiança dos franceses para governar a sexta economia do mundo, potência nuclear, membro do Conselho de Segurança da ONU.

A mudança aconteceu, quando estava ameaçado de ruir o pensamento libertário e global de Voltaire, de Tocqueville, de parte da Revolução Francesa, de Raymond Aron e outros.

O país correu o risco do renascimento de práticas fascistas, retrocesso a uma condição terceiro-mundista, com a saída do euro, a morte da União Europeia e o ressurgimento populista de nacionalismo destrutivo.

Macron usou linguagem nova, no vocabulário político universal.

Colocou-se como a centro-esquerda socialista, liberal de esquerda.

A eleição presidencial francesa de 2017 voltou a ser, o que o general De Gaulle, refundador da França moderna, denominava do “encontro entre um homem e um povo”.

A pregação de Macron é de reduzir progressivamente a tensão entre capitalismo e democracia.

Certamente, ele parte do princípio de que o capitalismo historicamente se ajusta, demonstrando eficiente capacidade de adaptação, para evitar que as classes populares façam opção por ideologias radicais e estatizantes.

Outro exemplo de mudança eficiente é Portugal, após a vitória da "Geringonça" em 2015, que tem governado o país, associando as políticas de austeridade do FMI, União Europeia e Banco Central Europeu, aliadas às carências sociais da população.

Na prática, uma posição semelhante a que propõe Macron na França: liberalismo de esquerda, associando as duas correntes e utilizando os que elas têm de melhor.

Segundo o sociólogo e economista português Boaventura de Sousa Santos neste momento, a economia portuguesa é uma das que mais crescem na Europa (superior a 2%), tendo promovido o fim dos cortes em pensões e salários, revertida a precarização dos contratos de trabalho, tornado o sistema fiscal mais justo e reforçada a educação pública.

Os alemães, embora ortodoxos em matéria de economia, já fazem justiça ao ministro das finanças português, Mário Centeno, chamando-o de "Cristiano Ronaldo das finanças”.

Ele até está cotado para ser o presidente do Euro grupo, que decide as finanças europeias.

A teoria de “evitar o mal maior” abre perspectivas para devolver à empresa privada a sua função de geradora de emprego e motor do desenvolvimento; valorizar o empresário em posição de vanguarda da modernidade, sem prejuízo da prioridade do bem estar social.

Todas essas mudanças em Portugal e a França ocorrem com a preservação do Estado, que não deve ser chamado de mínimo, mas sim o Estado necessário a cada país.

A empresa privada busca a eficiência, reduz custos e persegue a qualidade dos seus produtos, com o objetivo de lucros financeiros.

O Estado deve buscar a eficiência, reduzir custos e garantir a qualidade dos seus serviços, com o objetivo único de lucros sociais.

Ambos, portanto, desejam o lucro; apenas com aplicações diferenciadas dos resultados econômicos alcançados.

Um não prospera sem o outro.

São esses “novos” caminhos, sem “oportunismo”, ou busca exclusiva de associar o poder político ao poder econômico, que o Brasil espera poder alcançar, na eleição de 2018.


18 de junho de 2017
Ney Lopes – ex-deputado federal (sem partido); procurador federal, ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, jornalista e professor de Direito Constitucional.

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